Se existe um lugar nesse mundo que me surpreendeu completamente (para o bem), esse lugar é o Acre. Quando estive lá, relatei aqui algumas experiências impressionantes que tive em um Estado com um planejamento urbano de ensinar muita coisa para outras cidades brasileiras e uma capital, Rio Branco, muito bem pensadas para as pessoas, moradoras da cidade.
E para a minha surpresa, dia 28 lá vou eu embarcar novamente para Rio Branco. Não mais como jornalista de turismo, mas como educomunicadora, para facilitar a Conferência Estadual pelo Direito da Criança e do Adolescente. Estou super feliz.
De “presente” deixo aqui para vocês uma parte do guia de turismo que escrevi sobre Rio Branco. Quem se animar a conhecer o Acre também, encontrará aqui algumas boas dicas. Aproveitem!
Este slideshow necessita de JavaScript.
Acre: Um Estado a frente de muitos outros
Atire a primeira pedra quem nunca falou – ou ouviu – a interrogação: “o Acre existe?”. Para quem tem, realmente, dúvidas, a resposta é sim, o Acre existe e está na frente de muitos outros estados brasileiros, sendo Rio Branco, a sua capital, a maior expressão disso.
Imagine uma cidade bem organizada, com belíssimos museus e espaços culturais, com praças e parques por todos os lados, vias exclusivas para bicicletas nas principais avenidas, piscina olímpica pública para todos os cidadãos e uma biblioteca “classe A”, que vira ponto de encontro de crianças e jovens depois da aula. Talvez você tenha pensado em alguma cidade europeia, mas não, esta é a desconhecida Rio Branco, a calorosa capital mais a oeste do Brasil, já próxima das fronteiras com Bolívia e Peru.
A história dessa impressionante cidade é tão bonita quanto os seus parques. Rio Branco nasceu em 1882 aos pés de uma árvore frondosa, quando um explorador cearense decidiu instalar ali o seu seringal. A gameleira de dois metros de altura às margens do Rio Acre continua lá, até os dias atuais no hoje colorido e animado Calçadão da Gameleira. Talvez seja essa origem que faz também do povo rio branquense tão próximo da natureza. Aqui todos se orgulham de serem denominados como “os povos da floresta”, e essa floresta nada mais é do que a maior do planeta: a Floresta Amazônica, que aqui está com 90% de sua vegetação original.
Mas toda essa bela história já teve os seus longos dias de turbulência. Foi no início do século 20, quando o governo boliviano exigiu do Brasil as terras ricas em látex ocupadas por brasileiros, mas que em demarcações mostravam que pertenciam à Bolívia. O governo brasileiro cedeu as terras sem hesitar. Quem não gostou da negociação foram estes brasileiros que há décadas já viviam da borracha e faziam questão de viver em território verde amarelo.
Com o apoio de alguns nobres de Manaus e Pará, os acreanos deram início sozinhos à chamada Revolução Acreana. Por um ano centenas de seringueiros morreram lutando pelo direito de que suas terras pertencessem ao Brasil. Surpreendentemente, a vitória foi desse grupo cheio de garra e talvez, por isso, os acreanos são o povo que mais se orgulha de ser brasileiro.
Mesmo com a vitória, ainda foram décadas de lutas para que o Acre fosse efetivamente um estado e não um simples território da federação brasileira. O reconhecimento só veio na década de 60, um ano antes da ditadura militar. Nesse meio tempo, a borracha amazônica que ganhou o mundo perdeu o valor. Muitas famílias foram obrigadas a deixar a sua vida na floresta para tentar a sorte na cidade grande, no caso, Rio Branco.
Hoje, Rio Branco tem 300 mil habitantes, metade da população do Acre. Todas essas histórias de lutas são muito bem interpretadas em seus museus. A vida na floresta não acabou. Seringais ainda alimentam centenas de famílias ao longo do estado com o apoio de governos e da iniciativa privada. Na capital ficou a mistura de povos, que é expressa em seus hábitos alimentares e estilo de vida. A relação do rio branquense com a natureza é impressionante e encantadora. Aqui está uma capital que tem muito a ensinar. As portas estão abertas para quem quiser ver que o Acre existe e está mais vivo do que nunca.
Como chegar
– De carro
A BR-364 é a rodovia que atravessa o Brasil desde o sul e chega até Rio Branco, passando por Porto Velho, Rondônia. Já a BR-317 liga Rio Branco ao município amazonense de Boca do Acre e as demais cidades do chamado Alto Acre, ali a rodovia faz fronteira com o Peru e inicia a chamada rodovia Interoceânica, que chega até o Pacífico, passando por Cuzco.
– De ônibus
Rodoviária de Rio Branco
Rua Palmeiral, 350, 6 de Agosto
Tel: (68) 3224-6984
Companhias de ônibus:
Eucatur (Saídas de Porto Velho, Cuiabá e Campo Grande)
https://www.eucatur.com.br/
Tel: 0800 45 5050
Nacional Expresso (Saídas do São Paulo, Campinas, Araraquara, Barretos, Cuiabá, Cáceres, Rondonópolis e Ji-Paraná)
http://www.nacionalexpresso.com.br/
Tel: (68) 3244-2501
– De avião
O aeroporto de Rio Branco fica a aproximadamente 20 km do centro da cidade. O acesso é feito pela conservada BR-364. Taxistas cobram de R$40 a R$50 o trajeto aeroporto-centro, mas os valores são negociáveis, principalmente se for pagar em dinheiro. As companhias aéreas que atendem a cidade são a TAM e a Gol
Aeroporto Internacional de Rio Branco
BR-364, Km 18, Sena Madureira
Tel: (68) 3211-1003/ 3211-1110/ 3211-5479
http://www.infraero.gov.br
Como circular
Táxis e moto táxis são muito comuns na capital acreana. Os valores são sempre negociados com antecedência e podem valer a pena. O transporte público é um pouco demorado, mas atende toda a cidade. Circular em veículos particulares podem reservar pequenos momentos estressantes nos horários de pico, quando formam alguns congestionamentos nas principais avenidas. Andar de bicicleta é facílimo, a cidade é cortada por ciclovias e ciclofaixas, muito bem projetadas e que servem de exemplo em planejamento cicloviário para todo o Brasil. Não é à toa que Rio Branco é a segunda capital brasileira em extensão de ciclovias por habitantes, ficando atrás apenas de Vitória, no Espírito Santo, e deixando para trás capitais como Curitiba e Aracaju, famosas pelas vias exclusivas para os ciclistas.
Melhor época para ir
Rio Branco tem forte influência das estações amazônicas. Chove muito entre os meses de novembro e abril e é extremamente seco entre maio e outubro. Por isso, vale a pena escolher o período de visitação de acordo com as suas preferências meteorológicas, pois os pontos turísticos aguardam visitantes o ano inteiro sem distinções.
Atrações:
Calçadão da Gameleria
Rua Senador Eduardo Assmar, s/n, 2º Distrito – Margem direita do Rio Acre
Apesar de estar no chamado 2º Distrito, foi aqui que a cidade de Rio Branco começou. A árvore Gameleira de 20 metros de altura e 2,5 metros de diâmetro continua intacta desde que se originou a cidade. Ao redor, casarões históricos foram restaurados e concentram bares, galeria de arte e o primeiro cinema do Acre. Aos finais de semana o lugar fica lotado de rio branquenses que querem curtir o calor da cidade à beira rio. É aqui também que está o monumento de homenagem aos combatentes da Revolução Acreana.
Passarela Joaquim Macedo
Em frente ao Mercado Velho
A passarela estaiada para pedestres e ciclistas foi entregue em 2006 como parte das obras de revitalização do Mercado Velho para unir o 1º ao 2º Distrito. Com arquitetura moderna, deu uma nova cara para as margens do Rio Acre e trouxe os rio branquenses de volta ao centro da cidade. Os moradores locais adoram se encontrar nos bares à beira rio interligados pela passarela.
Mercado Velho
Av. Epaminondas Jacóme – margem esquerda do Rio Acre
Horário de funcionamento: Segunda a quinta, das 9h às 21h; sexta e sábado, das 9h à 0h, domingo, das 9h às 14h.
O lugar foi erguido na década de 20 e foi uma das primeiras construções de alvenaria de Rio Branco. Com o tempo ficou decadente e era considerado um dos pontos mais perigosos da capital. Em 2002 foi entregue totalmente revitalizado e passou a abrigar lojas de produtos naturais da Amazônia e de artesanato local. No salão central são servidos pratos feitos e há quiosques com cafés, doces e salgados. Na parte externa os bares tomam conta e são responsáveis pela badalada vida noturna às margens do Rio Acre. O chopp sujo, com sal na borda do copo, é um dos mais pedidos por aqui. Por causa das reformas e do novo significado que o mercado ganhou na cidade, ele é carinhosamente chamado de Novo Mercado Velho.
Parque da Maternidade
Rua João Donato, 125, Ipase (Administração)
Tel: (68) 3223-6100
Horário de funcionamento: Diariamente, 24 horas.
Preço: Gratuito
Aqui está o marco da mudança visual de Rio Branco. O parque linear de 6 mil metros de extensão era um enorme matagal às margens de um córrego e transformou-se em um amplo espaço com quadras poliesportivas, ciclovia, pista de caminhada, rampa de skate, biblioteca, restaurantes, lanchonetes e espaço para shows. É aqui também que está a Casa dos Povos da Floresta, que conta a história dos povos que vivem no Acre, a Casa do Artesão, com peças típicas da região e a Biblioteca da Floresta, com rico acervo especializado sobre a Amazônia e o Acre.
Casa dos Povos da Floresta
Parque da Maternidade, Setor B
Tel: (68) 3224-5667
Horário de funcionamento: Segunda a sexta, das 8h às 18h; sábado e domingo, das 16h às 21h.
Preço: Gratuito
A arquitetura do espaço é inspirada em uma maloca indígena. No interior é contado em detalhes como vivem os povos acreanos que há mais de um século vivem dos recursos da floresta sem agredir a natureza. São eles os índios, os seringueiros e os ribeirinhos. As lendas da floresta como o boto, a curupira e a mãe d’água são muito bem exemplificadas. O artesanato indígena também tem uma área interessante no local.
Casa do Artesão
Av. João Donato, s/n, Ipase – Parque da Maternidade
Tel: (68) 3223-0010
Horário de funcionamento: Segunda a sábado, das 9h às 20h.
Administrada por uma cooperativa de moradores da região, o local comercializa peças de artesanato vindas de diferentes povos acreanos, entre seringueiros e índios. Atualmente são mais de 100 artesãos que expõem as suas peças na Casa, com destaque para os colares feitos com sementes de árvores amazônicas e as botinhas de borracha produzidas com látex 100% acreano.
Memorial dos Autonomistas
Av. Getúlio Vargas, s/n, Centro (em frente a Biblioteca Pública)
Tel: (68) 3224-6417
Horário de funcionamento: Quarta a sexta, das 8h às 18h; sábado e domingo, das 16h às 21h.
Preço: Gratuito
O local foi inaugurado em 2002 em memória do movimento responsável pela emancipação do Acre até se tornar um estado. A história dos líderes da Revolução Acreana é contada em detalhes por bem preparados monitores. Peças como armas, dinheiro e cartas da época estão expostas no local, que também homenageia os ex-governadores do Acre.
Museu da Borracha
Av. Ceará, 1144, Centro
Tel: (68) 3223-1202
Horário de funcionamento: Terça a sexta, das 8h às 18h; sábado, domingo e feriados, das 16h às 21h.
Preço: Gratuito
O espaço é o local perfeito para aprender sobre o ciclo da borracha amazônica, que teve o Acre como um dos atores principais desde o século 19. História, geografia, arqueologia e religião, tudo sobre o Acre é bem explanado no museu, que ainda dedica um espaço especial para contar a história do Santo Daime, que nasceu aqui no Estado.
Palácio Rio Branco
Av. Getúlio Vargas, s/n, Centro (Praça dos Povos da Floresta)
Tel: (68) 3223-9240
Horário de funcionamento: Quarta a sexta, das 8h às 18h; sábado e domingo, das 16h às 21h.
Preço: Gratuito
Na extensa Praça dos Povos da Floresta está o Palácio sede do governo do Estado do Acre. A construção que começou em 1920 só foi finalizada em 1948. Em 2002 foi totalmente reformada e revitalizada e hoje apresenta a fachada e interior em perfeito estado de conservação. No térreo há uma moderna exposição permanente que foi feita para comemorar os 100 anos da Revolução acreana e contar a história do Acre com textos, cartas, manuscritos e muitas imagens.
Parque Chico Mendes
Rodovia AC-040, km 07, Vila Acre
Tel: (68) 3221-1933
Horário de funcionamento: Quarta a sábado, das 7h às 17h.
Preço: Gratuito
O parque foi inspirado nos ideais do ambientalista Chico Mendes que defendia o contanto entre o homem e a natureza. Por isso mesmo o militante ganhou um museu que conta a sua história dentro do Parque. O local também abriga o zoológico da cidade e várias opções de trilhas no meio de matas nativas. Há um interessante espaço que simula a casa de um seringueiro e conta algumas lendas da floresta que são muito respeitadas, até os dias atuais, pelos acreanos.
Biblioteca Pública
Av. Getúlio Vargas, 389, Centro
Tel: (68) 3223-1210
Horário de funcionamento: Segunda a sexta, das 8h às 21h, sábado, das 10h às 20h; domingo, das 16h às 21h.
Preço: Gratuito
Aqui está, certamente, uma das bibliotecas públicas mais modernas do Brasil. Além de um excelente acervo com mais de 90 mil publicações, entre elas obras em braile, a Biblioteca Pública do Estado do Acre disponibiliza um projeto chamado Comunidade Digital, com 80 computadores com acesso à internet gratuito. Aqui também é possível fazer o cadastro no Floresta Digital, programa do governo do Estado que disponibiliza internet Wi-Fi gratuita em todo o estado. Há um espaço dedicado somente para os gibis e a molecada tem uma área só para ela, que além de livros didáticos tem programação com jogos e brincadeiras educativas. A biblioteca ainda tem uma sala de cinema com filmes gratuitos. Não é à toa que no final da tarde a garotada sai da escola e corre para a biblioteca. Com um espaço assim dá até gosto ficar estudando.
Santo Daime
Alto Santo: Estrada Custódio Freire, a 7 Km do Centro – http://www.mestreirineu.org
Colônia 5.000: Rodovia AC-10, a 12 km do Centro – http://www.santodaime.org
Barquinha: Travessa da Paz, 134, Vila Ivonete – http://www.abarquinha.org.br
Fundada em 1930, em Rio Branco, pelo maranhense Mestre Irineu, a doutrina do Santo Daime faz parte da cultura e da história dos acreanos. Aqui é difícil achar uma pessoa que não tenha participado de algum ritual daimista, que usa a bebida sagrada dos índios: a ayahuasca. A relação dos acreanos com o daime é muito forte e templos são encontrados por todo o estado. Hoje, a doutrina já atravessou as fronteiras amazônicas e é seguida em muitos lugares do Brasil e até mesmo em outros países. Se quiser conhecer algum templo e o ritual do Santo Daime peça informações antes para os moradores locais. Em algumas comunidades do Daime os visitantes e iniciantes precisam passar por uma preparação antes de acompanhar o ritual. Os seguidores da religião não gostam de curiosos que chegam apenas para fazer turismo no meio de uma manifestação religiosa.