Sobre lagartas e bicicletas

julho 20, 2012

Inverno é a época em que as lagartas chegam aqui em casa. Todo ano é assim: elas chegam de mansinho, levam alguns dias para subir a parede, depois ficam outros tantos dias de sacodindo para achar a posição ideal até que elas, simplesmente, param. Ficam ali, mais alguns dias paradas no mesmo lugar até começarem a virar uma casca grossa que parece grudar na parede. E lá se vão mais e mais dias de espera.

Adoro observar o casulo das lagartas. Elas estão ali, escondidinhas, esperando o momento certo para trazer ao mundo mais uma alegre e colorida borboleta. Confesso que me sinto abençoada por viver em uma casa que serve de refúgio para as lagartas – ou as futuras borboletas.

Um belo dia a gente abre a porta e o casulo está quebrado. A borboleta nasceu e seguiu o seu rumo. Nunca tive a sorte de ver uma borboleta sair do casulo, mas já me contento demais ao ver os casulos rompidos. O mundo ficou um pouquinho mais colorido.

Ciclistas são como as lagartas. Chegam de mansinho, sem fazer barulho e vão ajeitando o seu espaço. Assim como as lagartas, muita gente ao olhar os ciclistas os enxergam como pragas, algo um tanto quanto anormal na cidade. Mas os mesmos que acham que ciclistas – e lagartas – são pragas talvez não parem para pensar que eles chegam para ser borboletas e deixar as cidades com mais vida e cor.

Para mim, os ciclistas de São Paulo são como as lagartas da minha casa. A cada ano aumenta o número de ciclistas na cidade, assim como o de lagartas na minha varanda. Talvez porque esteja ficando claro ( para os ciclistas e as lagartas) que São Paulo e a minha casa podem ser lugares agradáveis para eles. Se hoje os movimentos pró-bicicleta ainda caminham a passos de lagarta, já estou vendo a hora em que eles vão romper os casulos e virar belas borboletas. Quando isso acontecer, os ciclistas poderão voar, voar bem rápido e deixar a cidade mais bonita, mais colorida e cheia de vida.

Não vejo a hora disso tudo acontecer.


Acre mais uma vez

abril 23, 2012

Se existe um lugar nesse mundo que me surpreendeu completamente (para o bem), esse lugar é o Acre. Quando estive lá, relatei aqui algumas experiências impressionantes que tive em um Estado com um planejamento urbano de ensinar muita coisa para outras cidades brasileiras e uma capital, Rio Branco, muito bem pensadas para as pessoas, moradoras da cidade.

E para a minha surpresa, dia 28 lá vou eu embarcar novamente para Rio Branco. Não mais como jornalista de turismo, mas como educomunicadora, para facilitar a Conferência Estadual pelo Direito da Criança e do Adolescente. Estou super feliz.

De “presente” deixo aqui para vocês uma parte do guia de turismo que escrevi sobre Rio Branco. Quem se animar a conhecer o Acre também, encontrará aqui algumas boas dicas. Aproveitem!

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Acre: Um Estado a frente de muitos outros

Atire a primeira pedra quem nunca falou – ou ouviu – a interrogação: “o Acre existe?”. Para quem tem, realmente, dúvidas, a resposta é sim, o Acre existe e está na frente de muitos outros estados brasileiros, sendo Rio Branco, a sua capital, a maior expressão disso.

Imagine uma cidade bem organizada, com belíssimos museus e espaços culturais, com praças e parques por todos os lados, vias exclusivas para bicicletas nas principais avenidas, piscina olímpica pública para todos os cidadãos e uma bibliotecaclasse A”, que vira ponto de encontro de crianças e jovens depois da aula. Talvez você tenha pensado em alguma cidade europeia, mas não, esta é a desconhecida Rio Branco, a calorosa capital mais a oeste do Brasil, já próxima das fronteiras com Bolívia e Peru.

A história dessa impressionante cidade é tão bonita quanto os seus parques. Rio Branco nasceu em 1882 aos pés de uma árvore frondosa, quando um explorador cearense decidiu instalar ali o seu seringal. A gameleira de dois metros de altura às margens do Rio Acre continua lá, até os dias atuais no hoje colorido e animado Calçadão da Gameleira. Talvez seja essa origem que faz também do povo rio branquense tão próximo da natureza. Aqui todos se orgulham de serem denominados como “os povos da floresta”, e essa floresta nada mais é do que a maior do planeta: a Floresta Amazônica, que aqui está com 90% de sua vegetação original.

Mas toda essa bela história já teve os seus longos dias de turbulência. Foi no início do século 20, quando o governo boliviano exigiu do Brasil as terras ricas em látex ocupadas por brasileiros, mas que em demarcações mostravam que pertenciam à Bolívia. O governo brasileiro cedeu as terras sem hesitar. Quem não gostou da negociação foram estes brasileiros que há décadas já viviam da borracha e faziam questão de viver em território verde amarelo.

Com o apoio de alguns nobres de Manaus e Pará, os acreanos deram início sozinhos à chamada Revolução Acreana. Por um ano centenas de seringueiros morreram lutando pelo direito de que suas terras pertencessem ao Brasil. Surpreendentemente, a vitória foi desse grupo cheio de garra e talvez, por isso, os acreanos são o povo que mais se orgulha de ser brasileiro.

Mesmo com a vitória, ainda foram décadas de lutas para que o Acre fosse efetivamente um estado e não um simples território da federação brasileira. O reconhecimento só veio na década de 60, um ano antes da ditadura militar. Nesse meio tempo, a borracha amazônica que ganhou o mundo perdeu o valor. Muitas famílias foram obrigadas a deixar a sua vida na floresta para tentar a sorte na cidade grande, no caso, Rio Branco.

Hoje, Rio Branco tem 300 mil habitantes, metade da população do Acre. Todas essas histórias de lutas são muito bem interpretadas em seus museus. A vida na floresta não acabou. Seringais ainda alimentam centenas de famílias ao longo do estado com o apoio de governos e da iniciativa privada. Na capital ficou a mistura de povos, que é expressa em seus hábitos alimentares e estilo de vida. A relação do rio branquense com a natureza é impressionante e encantadora. Aqui está uma capital que tem muito a ensinar. As portas estão abertas para quem quiser ver que o Acre existe e está mais vivo do que nunca.

Como chegar 

– De carro

A BR-364 é a rodovia que atravessa o Brasil desde o sul e chega até Rio Branco, passando por Porto Velho, Rondônia. Já a BR-317 liga Rio Branco ao município amazonense de Boca do Acre e as demais cidades do chamado Alto Acre, ali a rodovia faz fronteira com o Peru e inicia a chamada rodovia Interoceânica, que chega até o Pacífico, passando por Cuzco.

– De ônibus

Rodoviária de Rio Branco

Rua Palmeiral, 350, 6 de Agosto
Tel: (68) 3224-6984

 

Companhias de ônibus:

Eucatur (Saídas de Porto Velho, Cuiabá e Campo Grande)

https://www.eucatur.com.br/

Tel: 0800 45 5050

Nacional Expresso (Saídas do São Paulo, Campinas, Araraquara, Barretos, Cuiabá, Cáceres, Rondonópolis e Ji-Paraná)

http://www.nacionalexpresso.com.br/

Tel: (68) 3244-2501

De avião

O aeroporto de Rio Branco fica a aproximadamente 20 km do centro da cidade. O acesso é feito pela conservada BR-364. Taxistas cobram de R$40 a R$50 o trajeto aeroporto-centro, mas os valores são negociáveis, principalmente se for pagar em dinheiro. As companhias aéreas que atendem a cidade são a TAM e a Gol

 

Aeroporto Internacional de Rio Branco

BR-364, Km 18, Sena Madureira

Tel: (68) 3211-1003/ 3211-1110/ 3211-5479

http://www.infraero.gov.br

Como circular

Táxis e moto táxis são muito comuns na capital acreana. Os valores são sempre negociados com antecedência e podem valer a pena. O transporte público é um pouco demorado, mas atende toda a cidade. Circular em veículos particulares podem reservar pequenos momentos estressantes nos horários de pico, quando formam alguns congestionamentos nas principais avenidas. Andar de bicicleta é facílimo, a cidade é cortada por ciclovias e ciclofaixas, muito bem projetadas e que servem de exemplo em planejamento cicloviário para todo o Brasil. Não é à toa que Rio Branco é a segunda capital brasileira em extensão de ciclovias por habitantes, ficando atrás apenas de Vitória, no Espírito Santo, e deixando para trás capitais como Curitiba e Aracaju, famosas pelas vias exclusivas para os ciclistas.

Melhor época para ir

Rio Branco tem forte influência das estações amazônicas. Chove muito entre os meses de novembro e abril e é extremamente seco entre maio e outubro. Por isso, vale a pena escolher o período de visitação de acordo com as suas preferências meteorológicas, pois os pontos turísticos aguardam visitantes o ano inteiro sem distinções.

 

Atrações:

Calçadão da Gameleria

Rua Senador Eduardo Assmar, s/n, 2º Distrito – Margem direita do Rio Acre

Apesar de estar no chamado 2º Distrito, foi aqui que a cidade de Rio Branco começou. A árvore Gameleira de 20 metros de altura e 2,5 metros de diâmetro continua intacta desde que se originou a cidade. Ao redor, casarões históricos foram restaurados e concentram bares, galeria de arte e o primeiro cinema do Acre. Aos finais de semana o lugar fica lotado de rio branquenses que querem curtir o calor da cidade à beira rio. É aqui também que está o monumento de homenagem aos combatentes da Revolução Acreana.

 

Passarela Joaquim Macedo

Em frente ao Mercado Velho

A passarela estaiada para pedestres e ciclistas foi entregue em 2006 como parte das obras de revitalização do Mercado Velho para unir o 1º ao 2º Distrito. Com arquitetura moderna, deu uma nova cara para as margens do Rio Acre e trouxe os rio branquenses de volta ao centro da cidade. Os moradores locais adoram se encontrar nos bares à beira rio interligados pela passarela.

 

Mercado Velho

Av. Epaminondas Jacóme – margem esquerda do Rio Acre

Horário de funcionamento: Segunda a quinta, das 9h às 21h; sexta e sábado, das 9h à 0h, domingo, das 9h às 14h.

O lugar foi erguido na década de 20 e foi uma das primeiras construções de alvenaria de Rio Branco. Com o tempo ficou decadente e era considerado um dos pontos mais perigosos da capital. Em 2002 foi entregue totalmente revitalizado e passou a abrigar lojas de produtos naturais da Amazônia e de artesanato local. No salão central são servidos pratos feitos e há quiosques com cafés, doces e salgados. Na parte externa os bares tomam conta e são responsáveis pela badalada vida noturna às margens do Rio Acre. O chopp sujo, com sal na borda do copo, é um dos mais pedidos por aqui. Por causa das reformas e do novo significado que o mercado ganhou na cidade, ele é carinhosamente chamado de Novo Mercado Velho.

 

Parque da Maternidade

Rua João Donato, 125, Ipase (Administração)

Tel: (68) 3223-6100

Horário de funcionamento: Diariamente, 24 horas.

Preço: Gratuito

Aqui está o marco da mudança visual de Rio Branco. O parque linear de 6 mil metros de extensão era um enorme matagal às margens de um córrego e transformou-se em um amplo espaço com quadras poliesportivas, ciclovia, pista de caminhada, rampa de skate, biblioteca, restaurantes, lanchonetes e espaço para shows. É aqui também que está a Casa dos Povos da Floresta, que conta a história dos povos que vivem no Acre, a Casa do Artesão, com peças típicas da região e a Biblioteca da Floresta, com rico acervo especializado sobre a Amazônia e o Acre.

 

Casa dos Povos da Floresta

Parque da Maternidade, Setor B

Tel: (68) 3224-5667

Horário de funcionamento: Segunda a sexta, das 8h às 18h; sábado e domingo, das 16h às 21h.
Preço: Gratuito

A arquitetura do espaço é inspirada em uma maloca indígena. No interior é contado em detalhes como vivem os povos acreanos que há mais de um século vivem dos recursos da floresta sem agredir a natureza. São eles os índios, os seringueiros e os ribeirinhos. As lendas da floresta como o boto, a curupira e a mãe d’água são muito bem exemplificadas. O artesanato indígena também tem uma área interessante no local.

 

Casa do Artesão

Av. João Donato, s/n, Ipase – Parque da Maternidade

Tel: (68) 3223-0010

Horário de funcionamento: Segunda a sábado, das 9h às 20h.

Administrada por uma cooperativa de moradores da região, o local comercializa peças de artesanato vindas de diferentes povos acreanos, entre seringueiros e índios. Atualmente são mais de 100 artesãos que expõem as suas peças na Casa, com destaque para os colares feitos com sementes de árvores amazônicas e as botinhas de borracha produzidas com látex 100% acreano.

 

Memorial dos Autonomistas

Av. Getúlio Vargas, s/n, Centro (em frente a Biblioteca Pública)

Tel: (68) 3224-6417

Horário de funcionamento: Quarta a sexta, das 8h às 18h; sábado e domingo, das 16h às 21h.
Preço: Gratuito

O local foi inaugurado em 2002 em memória do movimento responsável pela emancipação do Acre até se tornar um estado. A história dos líderes da Revolução Acreana é contada em detalhes por bem preparados monitores. Peças como armas, dinheiro e cartas da época estão expostas no local, que também homenageia os ex-governadores do Acre.

 

Museu da Borracha

Av. Ceará, 1144, Centro

Tel: (68) 3223-1202

Horário de funcionamento: Terça a sexta, das 8h às 18h; sábado, domingo e feriados, das 16h às 21h.

Preço: Gratuito

O espaço é o local perfeito para aprender sobre o ciclo da borracha amazônica, que teve o Acre como um dos atores principais desde o século 19. História, geografia, arqueologia e religião, tudo sobre o Acre é bem explanado no museu, que ainda dedica um espaço especial para contar a história do Santo Daime, que nasceu aqui no Estado.

 

Palácio Rio Branco

Av. Getúlio Vargas, s/n, Centro (Praça dos Povos da Floresta)

Tel: (68) 3223-9240

Horário de funcionamento: Quarta a sexta, das 8h às 18h; sábado e domingo, das 16h às 21h.

Preço: Gratuito

Na extensa Praça dos Povos da Floresta está o Palácio sede do governo do Estado do Acre. A construção que começou em 1920 só foi finalizada em 1948. Em 2002 foi totalmente reformada e revitalizada e hoje apresenta a fachada e interior em perfeito estado de conservação. No térreo há uma moderna exposição permanente que foi feita para comemorar os 100 anos da Revolução acreana e contar a história do Acre com textos, cartas, manuscritos e muitas imagens.

 

Parque Chico Mendes

Rodovia AC-040, km 07, Vila Acre

 

Tel: (68) 3221-1933

Horário de funcionamento: Quarta a sábado, das 7h às 17h.
Preço: Gratuito

O parque foi inspirado nos ideais do ambientalista Chico Mendes que defendia o contanto entre o homem e a natureza. Por isso mesmo o militante ganhou um museu que conta a sua história dentro do Parque. O local também abriga o zoológico da cidade e várias opções de trilhas no meio de matas nativas. Há um interessante espaço que simula a casa de um seringueiro e conta algumas lendas da floresta que são muito respeitadas, até os dias atuais, pelos acreanos.

 

Biblioteca Pública

Av. Getúlio Vargas, 389, Centro

Tel: (68) 3223-1210

Horário de funcionamento: Segunda a sexta, das 8h às 21h, sábado, das 10h às 20h; domingo, das 16h às 21h.

Preço: Gratuito

Aqui está, certamente, uma das bibliotecas públicas mais modernas do Brasil. Além de um excelente acervo com mais de 90 mil publicações, entre elas obras em braile, a Biblioteca Pública do Estado do Acre disponibiliza um projeto chamado Comunidade Digital, com 80 computadores com acesso à internet gratuito. Aqui também é possível fazer o cadastro no Floresta Digital, programa do governo do Estado que disponibiliza internet Wi-Fi gratuita em todo o estado. Há um espaço dedicado somente para os gibis e a molecada tem uma área só para ela, que além de livros didáticos tem programação com jogos e brincadeiras educativas. A biblioteca ainda tem uma sala de cinema com filmes gratuitos. Não é à toa que no final da tarde a garotada sai da escola e corre para a biblioteca. Com um espaço assim dá até gosto ficar estudando.

 

Santo Daime

Alto Santo: Estrada Custódio Freire, a 7 Km do Centro – http://www.mestreirineu.org

Colônia 5.000: Rodovia AC-10, a 12 km do Centro – http://www.santodaime.org

Barquinha: Travessa da Paz, 134, Vila Ivonete – http://www.abarquinha.org.br

Fundada em 1930, em Rio Branco, pelo maranhense Mestre Irineu, a doutrina do Santo Daime faz parte da cultura e da história dos acreanos. Aqui é difícil achar uma pessoa que não tenha participado de algum ritual daimista, que usa a bebida sagrada dos índios: a ayahuasca. A relação dos acreanos com o daime é muito forte e templos são encontrados por todo o estado. Hoje, a doutrina já atravessou as fronteiras amazônicas e é seguida em muitos lugares do Brasil e até mesmo em outros países. Se quiser conhecer algum templo e o ritual do Santo Daime peça informações antes para os moradores locais. Em algumas comunidades do Daime os visitantes e iniciantes precisam passar por uma preparação antes de acompanhar o ritual. Os seguidores da religião não gostam de curiosos que chegam apenas para fazer turismo no meio de uma manifestação religiosa.


Foi para isso que eu vim…

abril 19, 2012

Vim para São Paulo de mala, cuia, colchão, geladeira em fogão no começo de 2008. Vim para atuar como jornalista. Deixei para trás  Piracicaba, a cidade onde estudei e morei por 5 anos, com um rio maravilhoso que deixou saudades (o Rio de Lágrimas, da música de Tião Carreiro). Mas era aqui que as coisas aconteciam. Oportunidades de trabalho, de continuar estudando, de conhecer mais gente… olhei para a frente e vim.

Nos primeiros três anos atuei como assessora de comunicação da secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Com fases boas e ruins, foi lá que aprendi muito do que eu sei da área ambiental ate hoje. Gostei tanto que acabei me especializando em Educação Ambiental (e em bicicletas!). Causei minhas micro-revoluções e mais uma vez resolvi olhar para a frente e seguir novos rumos.

Por cinco meses viajei pelo Brasil produzindo guias de turismo e voltei decidida a continuar em São Paulo somente se fosse para trabalhar em algo muito legal e muito transformado. E em menos de um mês eu já estava na sala colorida da Viração Educomunicação, trabalhando com adolescentes e jovens na luta pelo direito humano à comunicação. Lá eu posso dizer que tive os momentos pessoas e profissionais mais profundos, intensos e transformadores da minha vida. Trabalhei com pessoas incríveis e extremamente humanas e arrisco dizer que ficaria lá por muito tempo. Mas, um belo dia de janeiro, um e-mail aparece assim na minha conta: “Evelyn, como você está? Topa um café? Tenho uma proposta (decente) para te fazer.”

Marcamos o café. Lá estava o Daniel Guth (autor do e-mail) e o Jorge Grinspum, diretor do Instituto Parada Vital, esse que administra os bicicletários do metrô. Na hora percebi que o café era coisa séria. E foi! Basicamente a conversa foi assim: “a prefeitura de São Paulo tem um projeto de levar esse ano 4.600 crianças para usarem a bicicleta como meio de transporte no trajeto casa-escola-casa. São muitas coisas, muitos detalhes e precisamos de alguém para coordenar isso. Não vem outro nome em mente se não o seu. Você quer?!!”

[Silêncio]

Fiquei em um silêncio que durou alguns dias de conversas com pessoas próximas e reflexões. Eu amava o que eu estava fazendo na Viração, mas via cair no meu colo um projeto que, para mim, é um verdadeiro sonho. E foi durante a cobertura do Fórum Social Temático, na companhia de jovens cheios de energias maravilhosas de todo o Brasil, que eu decidi aceitar a proposta.

Desde fevereiro sou coordenadora do Programa Escolas de Bicicleta, que ainda vai dar muito o que falar – e espero que muita coisa boa! São muitos detalhes: desde a produção de 4.600 bicicletas de bambu até a formação e capacitação de 92 monitores e 4.600 alunos da rede pública de ensino. É tudo muito lindo e mais ainda quando começa a sair do papel.

Esse mês já estamos na fase de capacitação dos monitores que vão formar as crianças e pedalar com elas. Uma galera jovem, animada e que promete fazer um trabalho muito bacana nas escolas participantes do projeto.

… e para quem chegou em São Paulo para ser mais uma jornalista da Paulicéia… agora eu acho que começo a entender para que eu vim!


Algum problema?

abril 16, 2012

Essa semana foi bem atípica. Daquelas que a minha bicicleta ficou encostada em casa quase todos os dias. Como estava em dias que eu tinha que circular por pontos muito distantes da cidade, resolvi fazer tudo de transporte público. No começo foi tudo bastante eficiente, devo assumir. Andar de metrô em São Paulo fora dos horários de pico é uma delícia. Até que fui pega pela hora do rush!

Eram 18h15 e eu entro na estação Santa Cecília. A fila para passar a catraca chegava na escada. Acho que levei uns 15 minutos para conseguir entrar na estação. E o pior nem era isso. O trem já vinha lotado. Ninguém saia de dentro, ninguém de fora conseguia entrar e a plataforma só ia enchendo. Eu ficava imaginando o perigo que seria alguém cair da plataforma com toda aquela movimentação de pessoas chegando e ninguém conseguindo entrar no trem. Resumindo: era muito humilhante.

Como eu não estou acostumada com esse tipo de situação (graças a minha bike!), desisti. Me enfiei no caminho oposto e sai da estação. Sim, joguei R$3 fora, mas não há dinheiro que pague sentir o ventinho lá de fora no rosto novamente.

Resolvi seguir andando até a Avenida Angélica para pegar um ônibus. Um quarteirão para frente, uma pedestre e uma motorista brigavam na faixa. A motorista passou no vermelho e quase acertou a pedestre, que a xingou, que revidou e ainda ameaçou sair do carro para bater nela! “OI?!” A mulher quase mata a pedestre e ainda se sente ofendida? Mais um episódio deprimente na minha tentativa de voltar para casa.

Já na Angélica, a caminho do ponto do ônibus, a cena para acabar de vez com o meu dia: um ônibus atropela um pedestre. Que cai no chão bem machucado. Consciente, mas visivelmente com alguma partes do corpo fraturadas.

Foi a gota d’água. A melhor opção foi seguir a pé mesmo, andando até o cansaço pedir para eu parar e pegar um ônibus já quase no final da Angélica, perto da Dr. Arnaldo. Voltei para a casa mal e pensativa. Afinal de contas: qual é o problema dessa cidade?


Bike no Metrô – um triste episódio de constrangimento

abril 3, 2012

Sábado passado me ocorreu um episódio um tanto quanto paradoxal… Acontece que estavamos voltando de uma ação linda para incentivar crianças a usarem a bicicleta, lá perto do CEU de Heliópolis, no evento de lançamento do programa “Escolas de Bicicleta”.  Foi tudo incrível, lindo, perfeito.

Saimos de lá, junto com uns amigos, pedalando com um sorriso estampado na cara em direção à estação do metrô Sacomã, onde fariamos um intermodal básico para chegar até nossas respectivas casas. Como tinhamos levado um monte de materiais para o evento na bike, estavamos bem carregados e sem condições para levar a bike na escada fixa do metrô. Já estavamos ciente da liberação da escada rolante para subir e também da proibição de usá-la para descer…

Chegamos na estação e de cara uma escada subterrânea tão enorme que mal conseguiamos ver o fim dela! Com o peso que estavamos, não tinha viabilidade humana de carregá-las ali. Isentos de opção, pegamos a escada rolante para descer. Até aí tudo tranquilo, ninguém chamou nossa atenção.

Entramos no metrô e lá vem mais escadas pra descer. No meio de duas escadas fixas tinha um elevador abandonado (ficamos ali uns bons 2 minutos e ninguém apareceu!). Analisamos as escadas fixas e novamente concluímos que com o peso que estavamos (e com as damas também cansadas), não rolava. Chamamos o elevador e a primeira bike desceu (não cabia mais que uma). No meio tempo eu encarei a escada fixa, que era pequena, mas muito sofrida. Deu pra descer com leves marcas na mão…

Quando meu amigo saiu do elevador um funcionário do Metrô desce correndo e começa a gritar conosco. Basicamente ele queria dizer que existia um regulamento e que nós deveriamos respeitar. Ele poderia ter dito assim, sem grandes alardes, mas fez questão de fazer isso em alto e bom tom, insinuando que eramos uns fora da lei mal educados, o que, obviamente, chamou a atenção de todas as pessoas que estavam na plataforma. Cena constrangedora! Não tive escolha se não mentir que meu amigo tinha problema nas costas. Tive que subir o tom e perder toda a paciência e alegria que contive no meu dia para curar a síndrome do pequeno poder daquele rapaz.

Ao ver que a discussão tinha perdido a razão, virei as costas e fui embora, indignado com a atitude daquele funcionário. E o que me deixou mais indignado é que em momento algum eu vi um comunicado no Metrô dizendo “Ciclista vá por aqui”, ou ainda “Ciclista está proibido de usar escada rolante e elevador”! Ou seja, tinha que vir da minha livre e espontânea consciência imaginar que existia tal regulamento. Pensei nas centenas de pessoas que já usaram a bike no metrô e devem ter passado por situações parecidas sem conhecer regra nenhuma.

Curioso esta instituição não pensar nesses detalhes, mas ter estancado em todas as entradas das estações uma placa a la greenwash: “Sua bicicleta é bem-vinda”. Será que é mesmo?

P.S.: Obviamente essa história já está a caminho da Ouvidoria do Metrô. Vamos ver no que que dá… Aguardem novidades nos próximos capítulos!